Ser mecânico de carros é possível
06/06/2011
Primeiro o espanto; depois, a surpresa; e, finalmente, a satisfação.

É assim que muitos clientes reagem ao entregarem seus carros aos cuidados de Pedro Fernando Melchert de Carvalho e Silva, mecânico há 27 anos. Isso porque ele é cego. Para Pedro, o que para muitos pode parecer difícil, é totalmente possível. Como sempre gostou de carros, ele afirma que nunca teve dificuldades. “A parte que eu mais gosto é do motor, mas da mecânica de um carro eu faço tudo: suspensão, transmissão, embreagem e tenho noção da parte elétrica”, conta. “Muitas vezes, os colegas utilizam uma lâmpada para encontrar defeitos que não dá para ver. Com a mão, eu encontro”, explica. “Minha única limitação é que não posso testar os carros. Se pudesse, talvez descobrisse um barulho estranho de maneira mais fácil”, lamenta.
Na oficina onde trabalha ele não tem um espaço ou ferramentas adaptados, “mas as que eu uso são só minhas”, ele esclarece. E também não tem nenhuma imunidade – é cobrado como todo e qualquer funcionário.
Aprendendo na prática
Pedro trabalha na Zelão Car Serviços Automotivos, na Vila Mariana, centro de São Paulo. Começou em 1984, em uma oficina no bairro do Sumaré, onde recebeu as primeiras noções sobre mecânica “do senhor Jefferson, o dono”. “Logo de início, peguei um motor de um Fusca para tirar um vazamento de óleo, que eu pensava que era fácil, mas foi a coisa mais difícil do mundo. Por mais que eu arrumasse, sempre vazava de novo”, lembra. “O sr. Jefferson desmontou todo o motor e me mostrou peça por peça, além de explicar, com detalhes, para que elas serviam. Se não vazar em três meses, você fez direito, ele me disse.” Com o passar do tempo, foi assumindo serviços maiores e mais responsabilidades, como a de conferir e organizar todas as ferramentas no final do dia. “Nós só íamos embora quando estivesse tudo arrumado”, recorda.
Daí em diante, trabalhou em outras oficinas, até em uma autorizada da Volkswagen, onde fez vários cursos de especialização.
Entre a história e a mecânica
Nascido em São Paulo, em 28 de janeiro de 1960, Pedro tem seis irmãos, dois deles com deficiência visual. Perdeu a visão aos três anos vítima de um glaucoma congênito. Com 7 anos, na tentativa de consertar um radinho de pilha, desmontou, ou melhor, destruiu o aparelho! A experiência, embora mal-sucedida, foi um aprendizado para outras com gravadores e fitas cassetes, além de lhe ter dado a oportunidade de trabalhar na fábrica do irmão, onde montava caixas de som.
Pedro estudou em escolas regulares da rede pública por opção da mãe, mas aprendeu a ler e escrever em Braille. Começou a faculdade de História na Universidade de São Paulo (USP), mas não terminou o curso. A paixão pelos carros falou mais alto e ele decidiu seguir a carreira de mecânico.
O que mais lhe fascina nessa profissão é solucionar os problemas dos carros que ninguém consegue resolver. “Me sinto realizado na profissão que escolhi, e sou muito caprichoso em tudo o que faço.”
Para as pessoas com deficiência visual que desejam vencer profissionalmente como ele uma dica: “se você gosta do que faz, não tenha medo de errar, mas procure sempre fazer perfeito”.
Por Lúcia Nascimento – Jornalista
Na oficina onde trabalha ele não tem um espaço ou ferramentas adaptados, “mas as que eu uso são só minhas”, ele esclarece. E também não tem nenhuma imunidade – é cobrado como todo e qualquer funcionário.
Aprendendo na prática
Pedro trabalha na Zelão Car Serviços Automotivos, na Vila Mariana, centro de São Paulo. Começou em 1984, em uma oficina no bairro do Sumaré, onde recebeu as primeiras noções sobre mecânica “do senhor Jefferson, o dono”. “Logo de início, peguei um motor de um Fusca para tirar um vazamento de óleo, que eu pensava que era fácil, mas foi a coisa mais difícil do mundo. Por mais que eu arrumasse, sempre vazava de novo”, lembra. “O sr. Jefferson desmontou todo o motor e me mostrou peça por peça, além de explicar, com detalhes, para que elas serviam. Se não vazar em três meses, você fez direito, ele me disse.” Com o passar do tempo, foi assumindo serviços maiores e mais responsabilidades, como a de conferir e organizar todas as ferramentas no final do dia. “Nós só íamos embora quando estivesse tudo arrumado”, recorda.
Daí em diante, trabalhou em outras oficinas, até em uma autorizada da Volkswagen, onde fez vários cursos de especialização.
Entre a história e a mecânica
Nascido em São Paulo, em 28 de janeiro de 1960, Pedro tem seis irmãos, dois deles com deficiência visual. Perdeu a visão aos três anos vítima de um glaucoma congênito. Com 7 anos, na tentativa de consertar um radinho de pilha, desmontou, ou melhor, destruiu o aparelho! A experiência, embora mal-sucedida, foi um aprendizado para outras com gravadores e fitas cassetes, além de lhe ter dado a oportunidade de trabalhar na fábrica do irmão, onde montava caixas de som.
Pedro estudou em escolas regulares da rede pública por opção da mãe, mas aprendeu a ler e escrever em Braille. Começou a faculdade de História na Universidade de São Paulo (USP), mas não terminou o curso. A paixão pelos carros falou mais alto e ele decidiu seguir a carreira de mecânico.
O que mais lhe fascina nessa profissão é solucionar os problemas dos carros que ninguém consegue resolver. “Me sinto realizado na profissão que escolhi, e sou muito caprichoso em tudo o que faço.”
Para as pessoas com deficiência visual que desejam vencer profissionalmente como ele uma dica: “se você gosta do que faz, não tenha medo de errar, mas procure sempre fazer perfeito”.
Por Lúcia Nascimento – Jornalista
Fonte: Jornal Conviva da Associação de Deficientes Visuais e Amigos - Adeva - nº 55 - abril/maio/junho de 2011 - ANO XII
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