Correio Braziliense – Caderno Saúde
Fertilidade artificial
Equipe japonesa consegue, pela primeira vez, criar espermatozoides in vitro. A descoberta representa uma chance imensa de avanço no combate a uma das principais preocupações masculinas. A experiência, feita em camundongos, ainda deverá ser testada em humanos
Paloma Oliveto
Cientistas japoneses conseguiram um feito até agora considerado impossível. Eles criaram, em laboratório, espermatozoides artificiais que, depois de fertilizar óvulos, deram origem a fetos — por enquanto, de camundongos. Mas trata-se de um avanço imenso na área de fertilização e pode significar o início de terapias mais eficazes para o tratamento da infertilidade masculina. O resultado da pesquisa foi publicado na edição de ontem da revista especializada Nature.
Em mamíferos, o processo da espermatogênese — formação de espermatozoides — persiste ao longo de quase toda a vida adulta. Ele começa nas células-tronco espermatogônias, que vão se diferenciando até chegar a uma fase conhecida como espermatócito. Essa estrutura, então, sofre a divisão celular da meiose, quando o número de cromossomos da célula é reduzido à metade. A maturação completa do espermatozoide leva, em média, um mês, na maioria dos mamíferos.
Há quase um século, biólogos tentam reproduzir in vitro a espermatogênese, sem sucesso. As falhas começam na fase da meiose. Mas a equipe de pesquisadores da Universidade de Yokohama, liderada por Takehiko Ogawa, descobriu que a resolução do problema consiste em uma simples mudança na cultura das células reprodutivas. “O artigo é muito emocionante, pois representa o cumprimento de uma meta buscada por muitos biólogos reprodutivos durante anos”, disse à Nature Mary Ann Handel, especialista em genética reprodutiva do Laboratório Jackson em Bar Harbor, no estado americano do Maine.
Método
Depois de sucessivas tentativas, a equipe de Ogawa resolveu cultivar o esperma em um recipiente contendo fragmentos do tecido de testículos retirados de ratos com idade entre 3 e 5 dias de vida. Uma proteína fluorescente foi utilizada como marcadora das células, o que permitiu acompanhar o desenvolvimento do espermatozoide.
Inicialmente, os pesquisadores haviam colocado os fragmentos em um gel embebido em soro fetal bovino, um ingrediente típico das culturas de células. Mas o resultado foi frustrante. O sucesso só veio quando os cientistas substituíram o soro tradicional por outro material, frequentemente usado para cultivar células-tronco embrionárias. Depois de várias semanas nessa mistura, quase todas as amostras de tecido continham algumas células com o mesmo número de cromossomos encontrados no esperma — a meiose havia, enfim, ocorrido. As pequenas estruturas também possuíam flagelos, projeções em forma de cauda que os espermatozoides usam para nadar.
Dois meses depois, as células reprodutivas masculinas estavam prontas para entrar em ação. Os pesquisadores, então, injetaram o esperma em óvulos. O embrião foi inserido em uma fêmea e, semanas depois, nasceu uma dúzia de filhotes. Além disso, os tecidos foram congelados, o que pode ser útil no futuro para preservar o material de pacientes com câncer. A preservação da fertilidade é uma das principais preocupações de pessoas que precisam se submeter a tratamentos como quimio e radioterapia, pois os fortes medicamentos podem acabar matando as células reprodutivas (leia mais nesta página). Por isso, o armazenamento do esperma antes das sessões pode ser a solução.
Essa foi a primeira vez que cientistas conseguiram reproduzir, em mamíferos, a espermatogênese — processo pelo qual os espermatozoides são formados — e, além disso, obter sucesso na fertilização. “Acreditamos que, com o aprimoramento da técnica, será possível aplicá-la em outros animais, incluindo humanos. O método poderá esclarecer o mecanismo molecular das células germinativas e contribuir para o avanço da medicina reprodutiva, com a finalidade de tratar a infertilidade masculina”, disseram os autores, no artigo
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sexta-feira, 25 de março de 2011
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